Este blog foi criado com fim educativo no intuito de divulgar o trabalho desenvolvido em sala de aula, com as turmas de 6º ao 9º ano do EF, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Professor Arno Nienow, situada no município de Dois Irmãos/RS. Além de tornar público o trabalho dos alunos, este espaço é um meio de disponibilizar aos alunos informações referentes à disciplina com a finalidade de oferecer um ensino à distância que extrapole os limites da sala de aula.
Um país se faz com homens e livros. Monteiro Lobato
terça-feira, 4 de outubro de 2011
A ESTRANHA PASSAGEIRA
Stanislaw Ponte Preta
- O senhor sabe? É a primeira vez que eu viajo de avião. Estou com zero hora de vôo – e riu nervosinha, coitada.
Depois pediu que eu me sentasse ao seu lado, pois me achava muito calmo e isto iria fazer-lhe bem. Lá se ia a oportunidade de ler o romance policial que eu comprara no aeroporto, para me distrair na viagem. Suspirei e fiz o bacano respondendo que estava às suas ordens.
Madama entrou no avião sobraçando um monte de embrulhos, que segurava desajeitadamente. Gorda como era, custou a se encaixar na poltrona e arrumar todos aqueles pacotes. Depois não sabia como amarrar o cinto e eu tive que realizar essa operação em sua farta cintura.
Afinal estava ali pronta para viajar. Os outros passageiros estavam já se divertindo às minhas custas, a zombar do meu embaraço ante as perguntas que aquela senhora me fazia aos berros, como se estivesse em sua casa, entre pessoas íntimas. A coisa foi ficando ridícula:
- Para que esse saquinho aí? - foi a pergunta que fez, num tom de voz que parecia que ela estava no Rio e eu em São Paulo.
- É para a senhora usar em caso de necessidade - respondi baixinho.
Tenho certeza de que ninguém ouviu minha resposta, mas todos adivinharam qual foi, porque ela arregalou os olhos e exclamou:
- Uai... as necessidades neste saquinho? No avião não tem banheiro?
Alguns passageiros riram, outros - por fineza - fingiram ignorar o lamentável equívoco da incômoda passageira de primeira viagem. Mas ela era um azougue (embora com tantas carnes parecesse mais um açougue) e não parava de badalar. Olhava para trás, olhava para cima, mexia na poltrona e quase levou um tombo, quando puxou a alavanca e empurrou o encosto com força, caindo para trás e esparramando embrulhos para todos os lados.
O comandante já esquentara os motores e a aeronave estava parada, esperando ordens para ganhar a pista de decolagem. Percebi que minha vizinha de banco apertava os olhos e lia qualquer coisa. Logo veio a pergunta:
- Quem é essa tal de emergência que tem uma porta só pra ela?
Expliquei que emergência não era ninguém, a porta é que era de emergência, isto é, em caso de necessidade, saía-se por ela.
Madama sossegou e os outros passageiros já estavam conformados com o término do "show". Mesmo os que mais se divertiam com ele resolveram abrir os jornais, revistas ou se acomodarem para tirar uma pestana durante a viagem.
Foi quando madama deu o último vexame. Olhou pela janela (ela pedira para ficar do lado da janela para ver a paisagem) e gritou:
- Puxa vida!!!
Todos olharam para ela, inclusive eu. Madama apontou para a janela e disse:
- Olha lá embaixo.
Eu olhei. E ela acrescentou: - Como nós estamos voando alto, moço. Olha só... o pessoal lá embaixo até parece formiga.
Suspirei e lasquei:
- Minha senhora, aquilo são formigas mesmo. O avião ainda não levantou vôo.
PRETA, Stanislaw Ponte. Garoto linha dura. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1975, p.156-157.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário